sexta-feira, 6 de março de 2009

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury (1953)

Fahrenehit 451 será lembrado para sempre pela adaptação cinematográfica de François Truffaut (1966), da obra de mesmo nome escrita por Ray Bradbury em 1953.
Fahrenheit 451 narra para nós a história de Montag, um bombeiro (firefighter) numa metrópole futurista onde a leitura e a conservação de livros é terminantemente proibida, sendo aqui a função dos bombeiros não mais de apagar o fogo, mas ao invés disso, incenerar todo material subversivo impresso em brochura.
Diferente do que se poderia imaginar, acredita-se que o primeiro passo para tal conjuntura teria sido dado pelos próprios cidadãos, e não pelo Estado. Cansados da inquietação e complexidade proporcionadas pela leitura, uma onda anti-intelectual varreu as grandes cidades, ocasionando inclusive o abandono das cadeiras humanas nas universidades. Logicamente, acreditam alguns poucos cidadãos resistente, em algum momento este fato sendo percebido pelo Estado como um benefício ao controle de seus cidadãos, acaba intervindo na proibição de toda e qualquer impressão, literária ou mesmo jurídica.
É somente quando quando encontra Clarisse, uma espirituosa jovem de 16 anos, que Montag se questiona sobre o grande vazio que percebia à sua volta. Principalmente quando se vê incapaz de compreender o por que de mais ninguém observar com paixão e satisfação um bela paisagem, ou mesmo de se permitir refletir sobre questões que lhes tragam inquietação sobre o mundo ou seus próprios sentimentos. Muito provavelmente porque todos estão amansados pela onipresença brutal da publicidade e de programas de televisão desenvolvidos especialmente para aplacar a solidão e a inquietação de todos. De modo que, costumeiramente toda boa família revestia suas as três (ou quatro) paredas da sala com transmissores interativos carinhosamente apelidados de "família" por seus donos.
Impressionado pela tentativa de suicídio de sua mulher numa noite, Montag decide descobrir o por quê desta crônica insatisfação, agora, incapaz de ser preenchida com o prazer da destruição proporcionada por seu trabalho. É quando seu comportamento suspeito desperta a atenção de seus superiores e Montag se vê numa encruzilhada que o direciona para um confronto sem volta com toda a estrutura à sua volta, ou o sufocamento de suas necessidades mais profundas.


É emblemático o confronto com seu superior, o capitão Beatty. Num jogo de palavras e chavões intelectuais onde maliciosamente Beatty retruca todos os argumentos possíveis de Montag, antes mesmo que ele os manifeste. Neste curioso enfrentamento de citações e lugares comuns, Beatty argumenta a todo momento pelos dois, num diálogo que denuncia bastante da inutilidade dos impasses intelectualidade de nosso tempo, ao mesmo tempo em que trás a toda, todo o cinismo dos poderosos que guardam para si toda forma de conhecimento, por compreenderem que por trás dele está a chave para seu Poder.
A trama, como no filme, atinge seu clímax na batida à casa de Montag, onde se descobre escondidos não um ou dois livros na casa deste leitor recente, mas sim uma pequena biblioteca. Isto o obriga a destruir sua própria casa, mas não o livra de se tornar um fugitivo da polícia, dos bombeiros e de seu próprio rastro genético que é perseguido com voracidade por um enorme cão de guarda robô.
Seu único refúgio acaba sendo a fuga para as antigas estradas de ferro onde por anos, antigos professores e intelectuais abrigaram leitores fugitivos de um mundo embrutecido da qual se aproxima uma terrível e devastadora guerra.
E aí todos sabem o final...

7 comentários:

Sayd Mansur disse...

Links e legendas serão disponibilizados AQUI! Isso pra quem não sabe é necessário pois o blogspot apaga, APAGA, os blogs e todo o conteúdo dos blogs q disponibilizam links e downloads...!
BelÊ!

Sayd Mansur disse...

Outro bom motivo!
Descobri na primeira semana aqui que sem comentários o negócio não flui!
Claro que escrevo pra mim mesmo... mas, se assim já e dificil o bastante! Ajuda saber q tenho quem compartilhe os discorde dos mesmo pensamentos... mesmo q no máximo isso gire em torno da qualidade os meus próprios textos!

Sayd Mansur disse...

Terceiro ponto.
Quanto mais comentários tiverem numa caixinha dessa, mais facil fica de vcs virem aqui e comentarem! Nö?!
Ninguém quer ser o primeiro.. preguiça e dificuldade de formular um pensamento. É natural! Já fico grato ´por aqueles que lerem até o fim!
Então é isso um beijo!

Sayd Mansur disse...

Filme:
http://www.mininova.org/tor/263459
Legendas:
http://www.opensubtitles.org/pb/subtitles/3303384/fahrenheit-451-pb

Ale Braga disse...

Olá, Sayd. Adorei a sua resenha. O filme Fahrenheit 451 é uma obra de inesgotável aferições interpretativas. Considero-o como um espelho cinematográfico de tantos ocasos da humanidade, em suas experiências ditatoriais e totalitárias (vale a pena ler esse artigo: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,834005,00.html). A "grande queima de livros" no período do nazismo é marca de um monocromático-político-ideológico, óbice à expressão humana em suas potencialidades, limitador. A democracia é o caminho e a esperança daqueles personagens a decorarem livros, a transmitirem aos mais jovens. Essa é uma bela cena, gravada em meu coração, pois significa a acolhida dos homens do tempo presente de sua herança cultural, de mãos dadas com a vindoura geração. O filme do Truffault tem magistral direção, um excelente roteiro e atores graciosos. Um dos meus prediletos. Beijos,

Ivison Spezani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ivison Spezani disse...

Exelente filme. Perceber como o mundo se torna descolorido sem a ficção dos livros, uma ficção paradoxalmente real e reflexiva de um realidade. E como audaciosas são as ações daqueles que sabem ver o quão bela é a literatura, sendo capazes de morrerem por ela, pois inevitavelmente formam um único conjunto, e já não há um limite tênuo entre o que é o Eu e o que lhe é dado pelo livro. Tal fato torna-se nítido também quando os livros e a personalidade se fundem, na tentativa e única forma de manter a literatura viva e perpetuá-la.